Professor envenenado no DF: o que se sabe e o que falta saber

No dia 4 de fevereiro, o professor Odailton Charles Albuquerque Silva morreu após ficar cinco dias internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em Brasília. Parentes dizem que ele passou mal após ingerir um suco de uva na escola pública onde havia sido diretor até o ano passado, quando perdeu a reeleição para o cargo

A Polícia Civil encontrou veneno de rato no sangue do educador e investiga o caso como homicídio. Ao ser questionado se havia suspeitos, o delegado à frente da investigação, Laércio Rossetto, afirmou que “há investigados”.

Já a família, aponta um suposto envenenamento. Em áudios enviados a amigos, Odailton disse que o mal estar começou após tomar um suco oferecido por uma colega, com quem tinha desavenças

Segundo o delegado Rossetto, a colega que teria oferecido a bebida nega, assim como um vigilante que disse ter visto o professor tomar dois comprimidos. A direção do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 divulgou uma nota onde também nega que “algum servidor tenha oferecido qualquer líquido ao professor”.

De acordo com a polícia, testemunhas disseram que havia um suco de uva em uma geladeira da escola, “mas esse suco não estava lá no dia do fato”. A garrafa citada pelo professor também não foi encontrada até a última atualização desta reportagem.

Quem era o professor?

O professor Odailton Charles Albuquerque Silva foi diretor do CEF 410 por oito anos. Em 2019, ele chegou a concorrer a um novo mandato, mas perdeu.

O educador havia completado 50 anos. Ele era casado e tinha uma filha de 7 anos.

Veja o que se sabe e o que ainda falta saber sobre o caso:

  • O que se sabe
  • O caso é investigado como homicídio;
  • O laudo da perícia confirma que o professor foi envenenado com um raticida conhecido como chumbinho;
  • A substância aldicarb foi encontrada no sangue e no vômito da vítima;
  • A substância aldicarb causou a morte do professor e foi ingerida dentro da escola;
  • Os peritos do Instituto de Criminalística também encontraram traços de relaxante muscular nos materiais biológicos do professor. No entanto, não foram localizados traços do suco de uva;
  • A direção da escola nega que algum colega tenha oferecido suco ao professor envenenado.
  • O que falta saber

Odailton teve contato direto com chumbinho?
Há resquícios de veneno nas mãos do professor?
O suco de uva foi oferecido por alguém?
Onde está a garrafa mencionada por Odailton em áudio?
Por que nas roupas e no vômito do professor não há resquícios de suco de uva?
Quais os remédios ingeridos pelo professor?
Existe suspeita de irregularidades na prestação de contas da escola?

Cronologia do caso

  • 30 de janeiro

Odailton Charles Albuquerque Silva foi ao CEF 410 Norte. Ao chegar na escola – entre 12h e 12h30 – segundo ele, encontrou uma funcionária. De acordo com áudio enviado a uma amiga, ele teria bebido um suco de uva oferecido pela colega. Em seguida, conforme a gravação, o ex-diretor começou a passar mal e foi levado ao Hran. Médicos analisam o quadro de saúde como grave e a mulher dele registrou ocorrência na 2ª DP, como tentativa de homicídio.

  • 31 de janeiro

A esposa de Odailton voltou à delegacia para prestar depoimento e entregou uma bolsa térmica com gelo e as roupas usadas pelo marido no dia anterior. A mulher também mostrou os áudios enviados por Odailton a colegas.

  • 1º e 2 de fevereiro

Odailton Charles continuou internado em estado grave no Hran. Policiais da 2ª DP colheram depoimentos de testemunhas e pediram que peritos do IML coletassem material biológico do professor para fazer exames toxicológicos.

  • 3 de fevereiro

As amostras de sangue de Odailton Charles foram entregues pelo hospital ao Instituto Médico Legal (IML). Peritos começaram a examinar as roupas do educador e o material coletado.

  • 4 de fevereiro

Por volta das 16h, Odailton Charles Albuquerque Silva morreu no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). O corpo foi encaminhado para necropsia.

  • 5 de fevereiro

Peritos do IC foram ao CEF 410 Norte com o delegado responsável pelo caso. Os investigadores fizeram um croqui do local para tentar entender o que aconteceu no dia 30 de janeiro. Segundo a polícia, as câmeras de segurança da escola não estavam funcionando.

  • 6 de fevereiro

Um áudio gravado por professor, no momento em que passava mal, foi divulgado. O corpo de Odailton foi enterrado no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul de Brasília. No mesmo dia, um laudo da polícia apontou a presença de veneno de rato no corpo do professor. Segundo a perícia, a substância encontrada no vômito era chumbinho.

  • 7 de fevereiro

Em novo áudio divulgado, o professor envenenado dizia que faria uma denúncia contra a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto, por suspeita de desvio de recursos. No mesmo dia, a direção do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 se manifestou pela primeira vez sobre a morte de Odailton. O colégio negou que algum servidor tenha oferecido qualquer líquido ao colega.

  • 8 de fevereiro

A Polícia Civil aguardava o resultado dos exames que deverão indicar se o professor Odailton Charles Albuquerque Silva teve contato direto com o veneno de rato.

  • 9 de fevereiro

A Secretaria de Educação informou que a prestação de contas do CEF 410 Norte “está em dia”. Segundo a pasta, a escola apresentou os documentos de 2009 a 2018 e os mesmos foram aprovados. Ao G1, a secretaria informou que as contas de 2019 ainda não foram apresentadas, mas “estão dentro do prazo, que corre até o final de fevereiro”.

  • 10 de fevereiro

Uma semana após a morte do professor, o Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410, da Asa Norte, retomou as aulas com apoio psicológico para alunos e funcionários.

FONTE: G1 

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